quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Trecho "O peso da Glória" de C. S. Lewis

"Ao falar desse desejo por nosso país distante, o qual, agora, já encontramos em nós mesmo, sinto certa timidez. Estou praticamente cometendo uma vulgaridade. Estou tentando romper o inconsolável segredo em cada um de vocês - o misterioso segredo que dói tanto que se vingam dele chamando-o de nomes como Nostalgia, Romantismo e Adolescência. É o segredo que também aguilhoa com doçura tal que, quando em conversa muito íntima, sua menção torna-se iminente, ficamos desajeitados e com vontade de rir de nós mesmo; o segredo que não conseguimos esconder nem dizer, apesar de desejarmos fazer os dois. Não podemos contá-lo porque é um anseio por algo que jamais ocorreu em nossa experiência. Não podemos esconder porque nossa experiência está sempre deixando que ele transpareça, e nós nos traímos como os apaixonados quando se menciona determinado nome. Nosso expediente mais comum é chamá-lo de beleza e nos comportar como se isso resolvesse o assunto. O recurso de Wodsworth foi compará-lo a determinado momentos de seu passado, não teria encontrado a coisa em si, mas apenas a lembrança dela; aquilo de que ele lembrava na verdade seria a própria recordação. Os livros e a música nos quais pensamos ter encontrado beleza nos trairão se confiarmos neles. A beleza não está neles, ela surge por meio deles, e o que veio por meio deles era anseio. Esses elementos - a beleza, a lembrança de nosso passado - são boas figuras daquilo que realmente desejamos; mas, se forem confundidos com o que realmente desejamos, transformam-se em ídolos tolos. Ídolos que ferem o coração de seus adoradores, pois não são o que eles desejam, são tão somente o perfume de uma flor que não encontramos, o eco de uma canção que não ouvimos, notícia de um país distante que não visitamos. Acham que estou tantando inventar um sortilégio? Talvez, mas lembrem-se de seus contos de fadas. Os sortilégios são empregados tanto para quebrar encantamentos como para levar a eles. Tanto vocês como eu precisamos do sortilégio mais forte que se possa encontrar para nos despertar do encantamento dessa mundanidadeque se abateu sobre nós há quase um século. Quase toda nossa formação foi direcionada para silenciar a voz interior reprimida e persistente; quase todas as filosofias contemporâneas foram concebidas para nos convencer de que o bem do homem deve ser encontrado na terra." 


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