''Olhei para minha terra natal
e não vi anjo nenhum.
Gosto daqui
e nem penso voltar
para donde vim.
Tenho perambulado solitário
como as multidões
Já tentei o silêncio
o exílio e a astúcia.
Útero ulterior
estou farto dele.
Tenho viajado.
Ouvi Debussy
filtrado por um lençol.
Ouvi pássaros
ressoando como sinos.
Tenho visto estátuas de heróis
nos entrocamentos.
Quem diria
a alma também tem crises.
Eu sofri
um pouco.
Não sofri em público.
Sou jovem demais para morrer.
Eu tenho planos para o futuro.''
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Michel Melamed
"porque verdade sem amor é crueldade
porque ainda tem...
ainda tem pias injetando dias
mulheres dizendo “você não me conhece”
ainda tem...
mesmo que precisão seja coisa pra quem julga
e não pra quem se entrega às esferas
e ainda tem hoje
o dia inteiro ainda tem
e ainda tem a vida toda
o que resta da vida toda
e os restos de todas as vidas
e as novas e dessas as que virão
e as que não
as tanto, as não, as nem
ainda tem
um enigma não é espantalho
que também tem
porque enigma não é espantalho
quem também tem
mesmo que ninguém saiba decifrá-lo
porque ainda tem...
ainda tem pias injetando dias
mulheres dizendo “você não me conhece”
ainda tem...
mesmo que precisão seja coisa pra quem julga
e não pra quem se entrega às esferas
e ainda tem hoje
o dia inteiro ainda tem
e ainda tem a vida toda
o que resta da vida toda
e os restos de todas as vidas
e as novas e dessas as que virão
e as que não
as tanto, as não, as nem
ainda tem
um enigma não é espantalho
que também tem
porque enigma não é espantalho
quem também tem
mesmo que ninguém saiba decifrá-lo
e ainda tem
um trem e uma rima
ainda tem uma menina correndo
de vestido rosa contra um fundo verde"
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Transcrição de música de órgão
"A flor na jarra na manteiga de cacau que estava antes na
cozinha, contorcida para chegar até a luz,
a porta do armário aberta porque o usei há pouco, continuou
gentilmente aberta esperando-me, seu dono.
Comecei a sentir minha miséria no catre sobre o chão,
escutando a música, minha miséria, é por isso que eu quero cantar.
O quarto fechou-se por cima de mim, esperava a presença
do Criador, vi minhas paredes pintadas de cinza e
o forro, elas contêm meu quarto, ele me contém
e o céu contém meu jardim,
abro minha porta
O pé da trepadeira subiu a pilastra do chalé, as
folhas da noite lá onde o dia as havia deixado, as cabeças
animais das flores lá onde havia aparecido
para pensar ao sol
[...]
A suava busca de crescimento, o gracioso desejo de
existir da flores, quase meu êxtase de existir no meio delas.
O privilégio de testemunhar minha própria existência -
você também deve procurar o sol...
Meus livros empilhados à minha frente para meu uso
aguardando no espaço que os coloquei, eles não
desapareceram, o tempo deixou seus restos e qualidades
para que eu os usasse - minhas palavras empilhadas,
meus textos, meus manuscritos, meus amores.
Tive um lampejo de claridade, vi o sentimento no
coração das coisas, saí para o jardim chorando.
Vi as flores vermelhas na luz da noite, o sol que se
foi, todas elas cresceram em um momento e estavam
aguardando paradas no tempo para que o sol do dia
viesse e lhes desse...
Flores que num sonho ao anoitecer eu reguei
fielmente sem perceber o quanto as amava.
[...]
A música desce, assim como desce o pesado ramo
cheio de flores, pois assim tem que ser, para continuar
vivendo, para continuar até a última gota de alegria.
O mundo conhece o amor no seu assim como na
flor, o solitário mundo sofredor.
O Pai é piedoso.
[...]
E o Criador me deu um instante da sua presença para
satisfazer meu desejo, para que eu não me desiluda no
anseio de conhecê-lo"
Allen Gisnberg
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