segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Transcrição de música de órgão

"A flor na jarra na manteiga de cacau que estava antes na
cozinha, contorcida para chegar até a luz,
a porta do armário aberta porque o usei há pouco, continuou
gentilmente aberta esperando-me, seu dono.

Comecei a sentir minha miséria no catre sobre o chão,
escutando a música, minha miséria, é por isso que eu quero cantar.
O quarto fechou-se por cima de mim, esperava a presença
do Criador, vi minhas paredes pintadas de cinza e
o forro, elas contêm meu quarto, ele me contém
e o céu contém meu jardim,
abro minha porta
O pé da trepadeira subiu a pilastra do chalé, as
folhas da noite lá onde o dia as havia deixado, as cabeças
animais das flores lá onde havia aparecido
para pensar ao sol

[...]

A suava busca de crescimento, o gracioso desejo de
existir da flores, quase meu êxtase de existir no meio delas.
O privilégio de testemunhar minha própria existência -
você também deve procurar o sol...
Meus livros empilhados à minha frente para meu uso
aguardando no espaço que os coloquei, eles não
desapareceram, o tempo deixou seus restos e qualidades
para que eu os usasse - minhas palavras empilhadas,
meus textos, meus manuscritos, meus amores.

Tive um lampejo de claridade, vi o sentimento no
coração das coisas, saí para o jardim chorando.
Vi as flores vermelhas na luz da noite, o sol que se
foi, todas elas cresceram em um momento e estavam
aguardando paradas no tempo para que o sol do dia
viesse e lhes desse...
Flores que num sonho ao anoitecer eu reguei
fielmente sem perceber o quanto as amava.
[...]

A música desce, assim como desce o pesado ramo
cheio de flores, pois assim tem que ser, para continuar
vivendo, para continuar até a última gota de alegria.
O mundo conhece o amor no seu assim como na
flor, o solitário mundo sofredor.
O Pai é piedoso.

[...]

E o Criador me deu um instante da sua presença para
satisfazer meu desejo, para que eu não me desiluda no
anseio de conhecê-lo"

Allen Gisnberg

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